Uma agenda de políticas consiste em uma lista de prioridades inicialmente estabelecidas, às quais os governos devem dedicar suas energias e atenções, e entre as quais os atores lutam arduamente para incluir as questões de seu interesse. A agenda de políticas resulta de um processo pouco sistemático, extremamente competitivo, pelo qual se extrai, do conjunto de temas que poderiam ocupar as atenções do governo, aquelas questões que serão efetivamente tratadas. Entenda-se efetivamente tratadas como tratadas de forma eficiente e eficaz.
A
formação da agenda é fortemente afetada, de um lado, pelos atores políticos; e,
de outro, pelos processos de evidenciação dos temas.
A
formação da agenda é fortemente afetada, de um lado, pelos atores políticos; e,
de outro, pelos processos de evidenciação dos temas.
Os atores que afetam a formação da agenda podem ser classificados
segundo duas tipologias. A primeira delas distingue os atores segundo suas
posições institucionais. Temos, então: os atores governamentais, e os atores não governamentais.
A configuração e a capacidade de ação dos atores variam no tempo e
no espaço. Um exemplo de ator não governamental são os evangélicos, no Brasil.
Até cerca de trinta anos atrás eles tinham
relativamente pouco peso político, pois o país era predominantemente
católico. Aos poucos surgiram igrejas, seus líderes formaram organizações e
passaram a se vincular a partidos políticos. Hoje os evangélicos são uma
parcela importante do eleitorado, com uma bancada poderosa no Congresso.
Nos Estados Unidos, um novo ator político que emergiu em torno da
década de 1970 foram os homossexuais, que formaram poderosas associações de
representação de interesses. No Brasil, o movimento gay vem se
fortalecendo e se apresentando como um novo ator. Em alguns países o movimento
ambientalista surgiu como um ator novo, fortalecendo e até mesmo dando origem a
associações, ONGs e partidos políticos.
Outra tipologia diferencia os atores segundo o grau de exposição
pública. Neste cenário temos os atores visíveis, e os atores invisíveis.
Para um melhor entendimento do complexo processo de formação da
agenda, alguns aspectos relativos às demandas(que compõem, juntamente com os apoios,
os inputs que provocam ou desencadeiam o movimento do sistema político), devem ser
considerados em maior detalhe. Nem todas as demandas são iguais, nem cumprem a
mesma trajetória. Basicamente, podemos distinguir em três os tipos de demandas.
As demandas novas são aquelas que resultam da mudança social e/ou tecnológica, do
surgimento de novos atores políticos ou de novos problemas. Novos atores são
aqueles que já existiam no subsistema político, mas não eram suficientemente
organizados; quando passam a se organizar para pressionar o sistema político, aparecem
como novos atores políticos. Novos problemas, por sua vez, são aqueles que
existiam ou não efetivamente antes – como a Aids, por exemplo – ou que existiam
apenas como “estados de coisas”, pois não chegavam a pressionar o subsistema
político e se apresentar como problemas políticos a exigirem solução. Foi o
caso,
durante muito tempo, da questão ambiental.
As demandas recorrentes são aquelas que expressam problemas não resolvidos ou mal
resolvidos, e que estão sempre voltando a aparecer no debate político e na
agenda governamental.
No Brasil, um exemplo de demanda recorrente é a reforma agrária.
O Estatuto da Terra tem mais de 40 anos de idade, o assunto foi votado
na Constituinte, aprovou-se mais tarde a Lei Agrária, mas não se fez reforma
agrária. Só a partir de meados da década de1990 – com a implementação da
reforma agrária – é que esta deixou de ser uma demanda recorrente.
As demandas reprimidas correspondem a “estados de coisas” ou “não
decisões”. Um “estado de coisas” é uma situação que se arrasta durante um tempo
razoavelmente longo, incomodando grupos de pessoas e gerando insatisfações sem,
entretanto, chegar a mobilizar as autoridades governamentais. Trata-se de uma
situação que incomoda, prejudica, gera insatisfação para
muitos indivíduos, mas não chega a constituir um item da agenda governamental,
não se encontra entre as prioridades dos tomadores de decisão.
Para que passe a preocupar de fato as autoridades e chegue a se
tornar um item da agenda governamental, um “estado de coisas” precisa antes se apresentar
como um “problema político”, ou seja, uma situação que exige algum tipo de resposta
do governo.
Quando um estado de coisas persiste, resistindo às provocações ao
debate público, configura-se o que Bachrach e Baratz (apud DAGNINO,
2002) conceituam como “não decisão”.
A “não decisão” não se refere à ausência de decisão sobre uma questão que foi
incluída na agenda política. Isso seria mais propriamente resultado do
emperramento do processo decisório,
que pode ocorrer por motivos diversos associados ao fluxo da
política (politics). Logo, a “não decisão” significa que determinadas temáticas que
contrariam os códigos de valores de uma sociedade ou ameaçam fortes interesses
enfrentam obstáculos diversos e de variada intensidade à sua transformação de
um estado de coisas em um problema político – e, portanto, à sua inclusão na
agenda governamental.
Para que um “estado de coisas” se torne um problema político e
passe a figurar como um item da agenda governamental, é necessário que apresente
pelo menos uma das seguintes características:
è mobilize ação política: seja
ação coletiva de grandes grupos, seja ação coletiva de pequenos grupos dotados de
fortes recursos de poder, seja ação de atores individuais estrategicamente
situados;
è constitua uma situação de crise,
calamidade ou catástrofe, de maneira que o ônus de não dar uma resposta ao
problema seja maior que o ônus de ignorá-lo; e
è constitua uma situação de
oportunidade, ou seja, uma situação na qual algum ator relevante perceba vantagens,
a serem obtidas com o tratamento daquele problema.
Em
geral, é a percepção de um “mal público” – uma situação que é ruim para muitos
e da qual ninguém tem como escapar – que frequentemente desencadeia a ação
política em torno de um estado de coisas, transformando-o em problema político.
Ao deixar de ser um “estado de coisas” e se transformar em um “problema
político”, uma questão qualifica-se à inclusão na agenda governamental. Não
quer dizer que vá seguramente dar origem a uma política pública, mas, apenas,
que passa a receber a atenção dos formuladores de políticas.
Evidentemente, se essa questão coincidir com withinputs
favoráveis dentro do subsistema político, a sua chance de se
tornar uma política pública aumenta consideravelmente.
Embora
mais atenção seja destinada à formulação de alternativas e à tomada de
decisões, a formação de agenda representa uma das mais importantes fases do
ciclo da política pública, especialmente porque mobiliza fortes recursos de
poder.
fonte: políticas públicas unidade II.
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