Em Economia, custos irrecuperáveis, também chamados de custos afundados (sunk costs), são recursos empregados na construção de ativos que, uma vez realizados, não podem ser revertidos em qualquer grau significante. Ou seja, o custo de oportunidade desses recursos, uma vez empregados, é próximo de zero. Geralmente estão associados a ativos específicos.
O custo irrecuperável é aquela aplicação de recurso realizada no passado da qual se esperava a geração de benefícios futuros; entretanto, no presente não mais se vislumbra sua potencialidade de geração de benefícios futuros, embora ainda não tenha sido totalmente amortizada.
Normalmente, contabilmente, o custo irrecuperável está relacionado à aquisição de ativos não-circulantes, isto é, cujo benefício é esperado para um período superior a um ano, como tecnologia, máquinas e equipamentos.
Imagine que determinada empresa tenha adquirido uma máquina, há três anos, por $ 100.000, cujo tempo de vida útil era estimado em 10 anos. Hoje essa máquina está contabilizada pelo valor líquido de $ 70.000 ($ 100.000 menos $ 30.000 de depreciação). Ocorre que o preço de venda do produto fabricado nessa máquina está menor que o custo marginal (variável), ou seja, independentemente da depreciação, a empresa perde dinheiro a cada unidade produzida e vendida. Considere que você seja o gestor dessa empresa... Você continuaria produzindo esse produto por mais sete anos (até terminar o tempo de vida útil da máquina)? Certamente que não! Afinal, os $ 70.000 de valor líquido da máquina correspondem a custos irrecuperáveis, pois já foram incorridos (e até pagos) no passado e não há nada que se possa fazer no presente, nem no futuro, para reverter tal situação. Portanto, a melhor decisão é descontinuar a produção desse produto e desfazer-se da máquina (vender por qualquer valor ou, mesmo, jogar fora), pois assim estar-se-ão evitando perdas a cada nova unidade produzida.
Os custos irrecuperáveis, em alguns casos, podem ser aplicações de recursos não reconhecidas pela Contabilidade Societária como Ativo, mas como Despesa, como gastos com capacitação de funcionários e publicidade.
Imagine uma determinada empresa que pagou $ 20.000 por um curso de aperfeiçoamento de seu melhor funcionário. Quando o funcionário retornou do curso, com o diploma, descobriu-se que ele havia praticado uma fraude (antes de se afastar para fazer o curso) e se apropriado indevidamente de alguns ativos da empresa. Considere que você seja o gestor dessa empresa... Você continuaria contando com essa pessoa como um funcionário de sua equipe por mais cinco anos? Certamente que não! Afinal, os $ 20.000 pagos pelo curso correspondem a custos irrecuperáveis, pois já foram incorridos (e até pagos) no passado e não há nada que se possa fazer no presente, nem no futuro, para reverter tal situação. Portanto, é razoável que o gestor decida demitir o funcionário por justa causa, antes que ele cause mais prejuízos para a empresa.
Um aspecto importante é como essa informação é contemplada nos modelos de decisão. Aqui fazemos a distinção de um modelo racional e não-racional. Na teoria microeconômica e, portanto, na abordagem clássica da contabilidade, o conceito de custo irrecuperável está relacionado com o comportamento racional de decisão. Um agente racional não permite que os custos irrecuperáveis influenciem a decisão.
Na compra de um ticket de cinema o espectador incorre em um recurso não reembolsável; o preço do ticket torna-se um sunk cost. Mesmo se o comprador decidir que ele não deve ir ao filme, não existe uma forma de rever o valor originalmente pago. Tal ticket serve apenas para aquela seção daquele filme, ou seja, é específico a ele. O valor incorrido originalmente não deveria afetar qualquer tomada de decisão racional futura sobre o uso do ticket. Assim, o consumidor prefere perder o ticket, se depois de comprá-lo não mais atribuir valor ao filme, ao escutar um comentário de alguém que sai do cinema, por exemplo. Consideramos que o consumidor não terá motivação para vender seu ticket na porta do cinema.
Podemos citar, como exemplo de decisão empresarial, $ 50 milhões em investimentos feitos na construção de uma nova planta industrial. Dessa quantia, $ 30 milhões já foram aplicados; contudo, o valor presente de tal empreendimento é zero, pois está incompleto (e a venda ou recuperação do valor não é possível), sendo que o valor esperado para o projeto original, no presente momento, é muito baixo ou nulo. A planta pode ser finalizada com $ 20 milhões adicionais, ou abandonada, ou ainda o projeto modificado para ser operado com $ 10 milhões adicionais. Racionalmente, o abandono do projeto é a melhor decisão, mesmo que represente uma perda total do valor já empregado.
Outro exemplo de sunk cost nos negócios é a promoção de uma marca, que normalmente não pode ser recuperada, exceto quando é vendida e transformada em dinheiro na saída do mercado. Decisões sobre investimentos futuros, vendas ou propagandas deveriam ser tomadas em termos de possibilidades futuras, não viesadas pelos recursos já empregados em propaganda pela empresa em períodos anteriores. Ou seja, não deveríamos esperar algo do tipo: — Já que foi feita grande inversão de recursos na marca X, continuamos empregando recursos nessa marca, mesmo não tendo expectativas de confirmar o fluxo de caixa das vendas anteriormente projetadas para tal marca.
Contudo, a economia comportamental (behavioural economics) reconhece que os custos irrecuperáveis sempre afetam as decisões econômicas em função da aversão ao risco. As pessoas têm fortes desincentivos para perder recursos, o que é chamado de aversão à perda. Muitas pessoas, por exemplo, se sentem obrigadas a ir ao cinema depois de comprarem um ticket, mesmo não desejando ver o filme, pois estariam desperdiçando um valor já pago. Os economistas denominariam tal comportamento como “não-racional”, pois o bem-estar de não ir é maior que o de ir ao cinema, dado que assistir ao filme aumentará a má alocação de recursos, no caso o custo de oportunidade do tempo de ir ao cinema assistir a um filme não desejado.
Esse comportamento, considerado não-racional (na teoria econômica), aponta para a falácia do custo irrecuperável (sunk costfallacy) e para a aversão ao risco.
No caso de decisões de consumo, podem-se esperar comportamentos (economicamente) não racionais. O que você acha que ocorre nas decisões empresariais? Na posição de decisores empresariais, espera-se que indivíduos sejam mais racionais, contudo, se tais gestores possuírem incentivos errados, projetos que deveriam ser encerrados, como no exemplo anterior, podem vir a ser concluídos. Políticos ou gerentes podem ter maior incentivo a evitar a reputação da perda total ao abandonarem um projeto que não deveria ter sido iniciado. Mais uma forma do efeito falácia.
No conhecido projeto “Concorde”, os governos francês e inglês continuaram a financiar o desenvolvimento do projeto do Concorde mesmo depois de, aparentemente, o modelo ter perdido o potencial econômico como aeronave. O projeto foi mantido pelo governo inglês como um desastre comercial, que “nunca deveria ter sido iniciado”, tendo sido quase cancelado. Contudo questões políticas e legais tornaram impossível para ambos os governos saírem do projeto antes de outubro de 2003.
Por fim, os custos irrecuperáveis são utilizados em relações contratuais para alterar relações de poder entre as partes. Estúdios cinematográficos sofrem com o sunk cost e acabam sendo capturados por diretores, que, à medida que os investimentos são feitos em contratação de atores, cenários, figurinos e outros gastos iniciais, após algumas semanas de filmagem, acumulam significativas somas de custos irrecuperáveis, e são incentivados assim a continuar o projeto
Nenhum comentário:
Postar um comentário