sábado, 23 de março de 2013

TEORIAS DO PÊNDULO E DA ESPIRAL


AS RELAÇÕES ENTRE O GOVERNO BRASILEIRO E A INDÚSTRIA NO ANO DE 2012

O modelo capitalista, como já foi comprovado, não pode sobreviver sem a intervenção periódica do Estado, para explicar essa relação, foi elaborada a teoria do pêndulo, que diz que em determinado período os mecanismos de mercado não são capazes de estimular os investimentos privados, a economia ou mesmo de gerar bem estar social, nesse ponto, começa a haver uma tendência para a intervenção do Estado, como forma de corrigir as falhas do sistema, recriando as bases para os investimentos privados, o que leva ao aquecimento da economia e ao aumento do bem estar social. Porém, o excesso de interferência Estatal gera empecilhos, tais como a falta de estímulo ao investimento privado, a inovação, ao aumento da produtividade, etc. Modernamente, foi constatado que o melhor modelo é o modelo de Estado de Bem Estar, ou seja, o mercado determina as regras do jogo até que seja necessária a intervenção do Estado, que deixa de intervir quando o bem estar social se faz presente sem sua interferência.
A teoria do pêndulo, porém não é capaz de satisfazer a necessidade de representar o real relacionamento entre Estado e Mercado, e para tanto, foi idealizada a teoria da espiral. Na teoria da espiral, diz-se que o mercado sofre interferência Estatal, causando uma evolução nas relações sociais atreladas ao âmbito da interferência, não havendo retrocesso, ou retorno a uma realidade anterior. Quando houver nova necessidade de intervenção Estatal nas regras de mercado, ela partirá do ponto anterior, ou seja, haverá uma evolução das relações sociais envolvidas, que levam a imagem de uma espiral infinita.
Foi travado em 2012 um embate entre o governo brasileiro e os bancos, que demonstra como a interferência do Estado nas relações mercadológicas é essencial para que haja controle no capitalismo, ou seja, se for relegada ao mercado a capacidade exclusiva de ditar as regras dos relacionamentos sociais, o impulso do acumulo de capitais fará com que o próprio sistema se torne inviável, pois os mais fortes esmagarão os mais fracos, não haverá possibilidade de concorrência, gerando monopólios que tornarão impossível a continuidade do sistema capitalista no qual a competição é um dos aspectos mais importantes para sua manutenção.
O embate citado acima, tem a ver com a redução da taxa de juros aos consumidores, e tem como base a alegação de que a diferença entre o valor pago pelos bancos quando fazem a captação dos recursos financeiros e a taxa cobrada pelos mesmos bancos dos tomadores de empréstimo. É lógico que os bancos estão fazendo o seu melhor, otimizando seus lucros ao máximo, porém, se não houver intervenção do Estado, haverá um alto índice de inadimplência, que poderá inviabilizar o negócio da instituição financeira. Então, fica claro que não é por que o governo é bonzinho que está interferindo, mas sim porque, caso o sistema financeiro se torne inviável, terá que intervir, com medidas para salvar o banco.
Outro bom exemplo de interferência Estatal nas relações mercadológicas é o caso das montadoras de automóveis, que tiveram uma redução de impostos, que foi repassada para o consumidor. Nesse caso, a pressão do Estado não foi necessária para que o consumidor pudesse se beneficiar da medida governamental. Devido a necessidade de aumentar suas vendas, sem alterar sua margem de lucros, o próprio mercado automobilístico ajustou os preços criando um efeito cascata onde, devido ao aumento das vendas o governo manteve sua arrecadação de impostos, as montadoras viabilizaram seu negócio atraindo mais consumidores, e os consumidores ficaram mais motivados a comprar um automóvel.
No primeiro caso, o dos bancos e sua aparente avidez pelo acumulo de capitais, nota-se que não há uma evolução voluntária nas relações com os tomadores de empréstimo, mas sim o uso da capacidade do Estado em coagir com a utilização do poder soberano a ele exclusivo. Ao que parece, não há uma percepção, pelo setor financeiro (bancos), de que seu negócio será inviabilizado por eles mesmos. Em contrapartida, qualquer ramo de negócios no qual o empresário se considere acima das leis que estabelecem o bem-estar entre o cliente e o fornecedor do bem, seja qual for o bem, tende a não se importar com as conseqüências. O setor bancário sempre foi amparado pelo Estado. Ao que parece há uma crença de que sem o amparo Estatal o sistema financeiro vai à falência, o que nos leva ao tão falado salvamento dos bancos em dificuldade. Já no setor automobilístico, não há no Brasil uma certeza de que o negócio sobreviverá por interferência do Estado, ou seja, se as empresas automobilísticas não repassassem para o consumidor a redução dos impostos concedidos a elas pelo Estado, certamente não teriam conseguido aumentar suas vendas, e estariam fadadas ao fracasso.
A partir do momento em que for possível ao sistema financeiro brasileiro se comportar de forma profissional no que diz respeito a necessidade de interpretar as conseqüências futuras de suas decisões  e práticas, não haverá mais o temor por parte do Estado de uma bancarrota financeira nacional. Com o entendimento da atual situação de relacionamento e capacidade de pagamento dos tomadores de empréstimos poder-se-á construir um mapa da evolução desse relacionamento, com a definição exata do ponto de partida, bem como do objetivo futuro, ou do resultado futuro de suas ações no presente.
Quanto a redução de impostos, é mais que conhecida a posição do Brasil como país cujos impostos são de primeiro mundo, porém com serviços prestados a população, pagos com esses impostos, de terceiro ou quarto ou quinto mundo. A falta de capacidade de processar as oportunidades presentes e resultados futuros não é privilégio do setor privado, mas sim infelizmente, é característica do setor público, que mantém situações vergonhosas de esbanjamento dos recursos gerados pelo pagamento de impostos extorsivos entre outros benefícios, como os royalties do petróleo, sem a devida contrapartida á população. Creio que seja mais do que lógico o fato de que se houver uma redução da carga tributária, isso resultaria em maior capacidade de gerar empregos formais, maior capacidade de investimentos, maior capacidade de competição com os produtos importados, etc. Mas para isso há também a necessidade de especialistas na máquina governamental, que vejam o bem estar público como seu maior objetivo, e que entendam também que isso trará benefícios a eles, pelo simples fato de viverem no país para o qual estão trabalhando.

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