Já se perguntou por que algumas das pessoas que mais amamos também são as que mais nos ferem?
Essa reflexão vai fundo na raiz das nossas dores emocionais: a expectativa que criamos — e o poder que entregamos sem perceber.
Leia até o fim e veja como isso se conecta com escolhas, alianças e até com as forças invisíveis que invocamos no dia a dia.
Vivemos num mundo instável, onde o mesmo fato pode ser celebrado hoje e lamentado amanhã.
Essa reflexão nasceu de uma sequência de pensamentos sobre o poder, o afeto, e os riscos invisíveis de entregar nossa paz nas mãos de outros — seja por amor, fé, ou necessidade.
Aqui, compartilho uma conclusão simples, mas difícil de encarar: muito do que nos fere vem de dentro — daquilo que esperamos, idealizamos, e deixamos entrar.
O Peso da Expectativa
Reflexão final sobre o poder que concedemos e a dor que ele traz
O mesmo fato pode ser júbilo hoje, desgraça amanhã.
A mesma pessoa que hoje abraçamos com confiança, amanhã pode nos ferir com palavras ou omissões.
A mesma escolha que ontem nos salvou da queda, amanhã poderá nos lançar de um abismo mais profundo.
Isso não acontece porque o mundo é cruel, ou porque as pessoas são essencialmente más. Acontece porque o ser humano é instável, fragmentado e movido por algo terrível e sutil: a expectativa.
Não é o outro que nos destrói.
É a distância entre o que esperávamos dele e o que ele, de fato, nos entregou.
É o ideal que criamos e colocamos sobre seus ombros — sem que ele sequer soubesse disso.
Quem está mais perto de nós tem mais acesso ao nosso centro.
E, por isso, tem mais poder para nos abalar — para o bem ou para o mal.
Mas esse poder não está nele. Está em nós, que o concedemos.
E o que o sustenta, o que alimenta essa força, é a expectativa projetada.
Toda força invocada — seja ela espiritual, emocional ou política — vem com um custo.
Nenhum poder superior responde a um chamado por acaso. Ou ele obedece por estar temporariamente sob controle… ou porque deseja algo em troca.
Em ambos os casos, o risco é de quem invoca.
Esse mesmo princípio vale para as relações humanas:
- O amor que projetamos sem ver o outro como ele é, cedo ou tarde vira ressentimento.
- A ajuda que parece bondade hoje, pode ser uma prisão amanhã.
- O aliado que hoje diz “sim” com gentileza, pode cobrar um preço impagável no futuro.
O que fere não é a pessoa, o evento, o fracasso ou a resposta fria.
O que fere é a expectativa não correspondida.
E quanto maior a intimidade, maior o impacto da quebra.
O único caminho possível é o da lucidez:
- Amar sem exigir.
- Esperar sem idealizar.
- Aproximar-se sem perder o eixo.
- E conceder poder apenas a quem é capaz de sustentá-lo com responsabilidade — inclusive nós mesmos.
Tudo aquilo que nos toca, antes passou pela porta da nossa permissão.
Toda dor carrega um pacto não assinado com a imagem que criamos do outro.
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